Terminei a última seção essa tarde e escrevi assim:
Os animismos são em geral exercícios de ressuscitamentos políticos. Trata-se de exercícios de descolonização, mas também de ampliação do âmbito do político deixando de lado a suposição de que há blocos apolíticos de inanimação com os quais só se pode negociar desde o lado de fora. Nesse sentido, são desnaturalizações do direito, não em favor de um direito positivo constituído, mas que façam prevalecer os momentos de constituição mesma de um direito. Assim, o movimento do ressuscitamento talvez seja um movimento que tenha que vir de muitas direções, das direções que estão sendo reanimadas. Trata-se de pensar no corpo em seus múltiplos pequenos movimentos que podem ser ecoados ou suprimidos. O corpo, ou o mundo animado, demanda uma escuta. Uma escuta de sujeitos entre assujeitados, uma escuta anciã e também ciborgue. E além da escuta, uma amplificação. Tatsumi Hijikata, um dos mais extremos inventores da dança butô, procurou entender no movimento do corpo os movimentos da inanimação e do ressuscitamento. Ele se interessa pelo gesto do corpo já posto em inanimação, encontrar o movimento milimétrico, o começo hesitante e imperceptível e amplificá-lo sem perder dele sua direção e sua novidade. Ele considera nossos corpos como cadáveres onde a vida é um resquício, e desse resquício é que se faz o movimento. Sua dança é a dança do ressuscitado, antes mesmo de ganhar a vida, antes mesmo de qualquer propósito. O butô, como tem defendido Caroline Marin, é o animismo pensável em uma era em que o fim do mundo, gradual e implacável, é notícia corriqueira.
Antler, em seu Follow Orders, prescreve a receita do desastre:1
Faça miniatura das grandes árvores, domestique flores selvagens,
cubra-as todas de plástico, ponha os botões sobre fios de cobre.
Compre a água, compre a terra, compre o céu.
Venda a água, venda a terra, venda o céu.
A receita termina com “Entre na sua limosine de muitos metros, jogue mil dólares
e grite ao motorista: 'Próximo universo, por favor.'”. Os animismos talvez possam ser entendidos da seguinte maneira: o que acontece quando não podemos comprar? Aquilo que não se compra, pede um outro tipo de tratamento – de trato. É nesse momento que começa a animação que vem, que é como a grande conversa – tendo em conta que é uma conversa entre sujeitos que vivem, desde sua gênese até seu apocalipse, em uma Torre de Babel maior que a Arca de Noé e talvez do tamanho de Gaia.
Os animismos são em geral exercícios de ressuscitamentos políticos. Trata-se de exercícios de descolonização, mas também de ampliação do âmbito do político deixando de lado a suposição de que há blocos apolíticos de inanimação com os quais só se pode negociar desde o lado de fora. Nesse sentido, são desnaturalizações do direito, não em favor de um direito positivo constituído, mas que façam prevalecer os momentos de constituição mesma de um direito. Assim, o movimento do ressuscitamento talvez seja um movimento que tenha que vir de muitas direções, das direções que estão sendo reanimadas. Trata-se de pensar no corpo em seus múltiplos pequenos movimentos que podem ser ecoados ou suprimidos. O corpo, ou o mundo animado, demanda uma escuta. Uma escuta de sujeitos entre assujeitados, uma escuta anciã e também ciborgue. E além da escuta, uma amplificação. Tatsumi Hijikata, um dos mais extremos inventores da dança butô, procurou entender no movimento do corpo os movimentos da inanimação e do ressuscitamento. Ele se interessa pelo gesto do corpo já posto em inanimação, encontrar o movimento milimétrico, o começo hesitante e imperceptível e amplificá-lo sem perder dele sua direção e sua novidade. Ele considera nossos corpos como cadáveres onde a vida é um resquício, e desse resquício é que se faz o movimento. Sua dança é a dança do ressuscitado, antes mesmo de ganhar a vida, antes mesmo de qualquer propósito. O butô, como tem defendido Caroline Marin, é o animismo pensável em uma era em que o fim do mundo, gradual e implacável, é notícia corriqueira.
Antler, em seu Follow Orders, prescreve a receita do desastre:1
Faça miniatura das grandes árvores, domestique flores selvagens,
cubra-as todas de plástico, ponha os botões sobre fios de cobre.
Compre a água, compre a terra, compre o céu.
Venda a água, venda a terra, venda o céu.
A receita termina com “Entre na sua limosine de muitos metros, jogue mil dólares
e grite ao motorista: 'Próximo universo, por favor.'”. Os animismos talvez possam ser entendidos da seguinte maneira: o que acontece quando não podemos comprar? Aquilo que não se compra, pede um outro tipo de tratamento – de trato. É nesse momento que começa a animação que vem, que é como a grande conversa – tendo em conta que é uma conversa entre sujeitos que vivem, desde sua gênese até seu apocalipse, em uma Torre de Babel maior que a Arca de Noé e talvez do tamanho de Gaia.
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