Do indexicalismo ao realismo espectral
Indexicalismo na prancheta:
Como fazer justiça ao exterior, ao outro enquanto outro, ao fora sem incluí-lo em uma totalidade no limite construída soberanamente sem espaço para um aporte de alhures a não ser enquanto notícia a ser incorporada?
Pode a exterioridade levinasiana responder ao problema do correlacionismo?
Como considerar a exterioridade levinasiana em uma filosofia do processo que não oferece um privilégio ao conhecimento ou à agência de humanos?
Indexicalismo, a fórmula:
Quatro ingredientes:
1. Whitehead: elementos neo-monadológicos, locus standi, isca para o sentimento, importância, co-ordenação.
2. Levinas: outro, o traço, a demanda da exterioridade, paradoxo da liberdade, proximidade, não-ontologismo.
3. Referência direta: a ideia de fixação de referência, não-descritivismo, demonstrativos kaplanianos, endereços, contato linguístico.
4. Perspectivismo ameríndio: o caráter cosmológico dos deícticos, caráter situado do que há, o pensamento dos outros (xenologia).
Indexicalismo, a caracterização:
Uma metafísica paradoxal situada de acordo com a qual tudo o que pode ser descrito por meio de substantivos tem uma indexicalidade implícita.
(Metafísica e crítica à metafísica)
Exterioridade e totalidade:
O exterior (o mundo externo, o Outside, o Grand Dehors) não pode ser tratado com justiça se não houver outro. A suposição de uma totalidade não pode promover uma supressão da correlação, apenas a substituição de uma correlação por outra futura.
A exterioridade não é substantiva, ela requer um outro que não pode ser inteiramente descrito.
A exterioridade é o limite à soberania, é uma passividade, uma vulnerabilidade.
A metafísica (paradoxal) dos outros: o exterior como elemento constitutivo do que há.
A hospitalidade da percepção:
A receptividade é uma hospitalidade – um contato com o exterior que pode ser também hostil, indiferente, mas que requer uma resposta.
O pensamento absolutamente situado é responsivo e permeado de elementos exteriores que não constituem uma imagem de parte alguma. O caráter situado da metafísica conduz a uma abundância de resultados epistêmicos tais que nenhum pode ser considerado neutro com respeito à exigência de uma resposta ao exterior.
O exterior e a adição assimétrica:
A adição assimétrica não é nem comutativa, nem transitiva e, é claro, não simétrica. É a adição que um elemento percebido provoca numa teoria, mas também a adição de matéria geológica, de um ingrediente na panela ou de uma cor numa tela.
O exterior é posterior.
O desvio epicurista (clinamen) e o aleatório: o aleatório pode ser a marca do que não pode ser interno, mas por meio de seu elemento iterativo – como o hipercaos – pode ser parte de uma totalidade.
A strução de Jean-Luc Nancy: construir e descontruir requerem adendos.
Adição e suplemento: a falta no que precede o adendo é produzida pela adição.
O exterior é excessivo, não há uma resposta a uma falta, mas um excesso constante; uma cosmopolítica da adição.
O exterior está sempre assombrando, tudo fica refém dos adendos.
Adição e memória, uma Zusammengehörigkeit:
A adição produz o efeito de atiçar lembranças, promover esquecimentos, reformatar rememorações, reorganizar arquivos.
Um legado da desconstrução: A memória é sempre refém da adição.
A relação com o passado é vulnerável ao futuro, Benjamin sobre a história recontada e sobre a força messiânica fraca; Derrida sobre a herança.
Memória e espectralidade:
A memória acossa, é conjurada, é convocada pelos deícticos “antes”, “passado”, “começo”. A conjugação de memória e adição enfraquece o começo.
O anterior é como o exterior, mas se torna uma força moldada pelo posterior. Em roda situação, há espectros, vestígios, pendências.
Anaximandro e a imortalidade das demandas de justiça – é a justiça que nos traz o espectro (inclusive como terceira pessoa que nos demanda limites).
Realismo espectral:
Santiago Arcila e a memória na política, os intensificadores espectrais e a repṹblica de fantasmas
Juliana Martinez sobre realismo espectral: pensar de uma maneira que leve o fantasma à sério ainda que não de um modo literal; focar não no que o fantasma é, mas no que o espectro faz.
Fabián Ludueña e a intermitência: os espectros não existem no sentido de pesistirem, mas eles insistem, retornam – imortalidade não é nem vida eterna e nem reincarnação, é intermitência, uma figura da memória.
Pos-hantologia: espectros aparecem em uma consciência, mas não são produtos dela e nem construções dela. Há um realismo acerca daquilo que a memória produz em um processo que não é uma simples acumulação de presentes
Disjuntologia: Ludueña postula que há uma insistência de espectros que é para-ontológica a parte daquilo que existe e é deiscente – aquilo que insiste acossa o que existe.
Pós-metafísica:
O realismo espectral pretende ser uma pós-metafísica no sentido de Ludueña em que não há apenas o que existe na realidade (não-ontologismo) e o que existe está sempre ferido de um modo que não pode ser suturado
A pós-metafísica da adição se insere em uma série de tentativas de pensar de modo pós-metafísico o escopo da metafísica – uma série inaugurada pela história do seer inaugurada pela Er-eignis de Heidegger.
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