Skip to main content

Five years philosophical serialism (and its very premature death)


Yes, 5 years ago, Luciana, Rudhra and me started the movement and gave it up in few months. A report was published in Portuguese and quoted in my book Excessos e Exceções. Manuel and me presented the saga to a large audience in the Spanish spring of 2008 with a performance by Fabi (not allowed to burn books in the lecture theatre).

Philosophical serialism is the attempt to apply some of Schoenberg's principles of composition to philosophical thought (and philosophical prose). The idea is that our thought is already prefigured by chains of tonality that make us think of, say, death followed by finitude, of virtuality followed by contingencies, of matter followed by passivity etc. Serialism was aimed at disrupting such practices by making it mandatory to think following the path of a series. The series was formed either by philosophers (a thought by Butler followed by a thought by David Lewis, say) or by ideas (singularity followed by the arbitrary etc, say). At the time we decided that it doesn't work because thinking seems to be composed by relations that are inherently internal, as opposed to musical composition where there is arguably no intrinsic link between one note and another. This conclusion, of course, is disputable. I fear the movement was aborted prematurely.

The prose produced by philosophical serialism efforts ends up reminiscent of those of Raymond Roussel, George Perec and Christian Bök. Bök, talking about his beautiful Eunoia, says: "The text makes a Sysiphean spectacle of its labour, willfully crippling its language in order to show that, even under such improbable conditions of duress, language can still express an uncanny, if not sublime, thought." I guess this can also inspire further exercises in philosophical serialism.


SERIALISMO FILOSÓFICO

“O que a aids não destruiu, Schoenberg destruirá.”

Um manifesto

O pensamento filosófico é prisioneiro de suas próprias armadilhas. Os argumentos subjacentes aos termos mesmo que usamos, às pressuposições que fazemos e aos hábitos que se instalaram em nós––o já não dito no que acabamos de dizer e que traça a linha do que viremos a dizer––terminam por pensar por nós já que não escapamos das projeções dos pontos iniciais do pensamento. É por isto que o pensamento se apresenta sempre com imagens: como partimos de um ponto a outro como se já tivéssemos um manual de instruções para pensar. Este manual de instruções, é claro, termina pensando por nós. Mesmo incompleto e ambíguo, ele constitui as sobras de uma mathesis universalis em que os pensamentos são, nos melhores casos, melodias circunscritas por tonalidades.
Quando procuramos nos soltar destes grilhões, eles nos prendem por serem subjacentes, por estarem implícitos, por ficarem na espreita por onde pensamos. Apenas uma disciplina de liberação livrará o pensamento de seus hábitos, argumentos viciados e pressuposições: apenas uma série filosófica nos soltará das cadeias das tonalidades filosóficas. Fazemos para nossas cabeças o que Schoenberg fez há 100 anos para nossos ouvidos: apresentamos uma disciplina de liberação, uma maneira de trapacear as inclinações de nossos pensamentos––ludibriar nossos carcereiros que nos espremem contra as palavras e seus dutos prontos. Trata-se de travar a batalha da inteligência serial contra o feitiço aprisionante da linguagem, que são palavras que sempre aparecem rodeadas de expectativas de outras palavras. Chega de seguir as amarras do pensamento em labirintos já construídos: pensemos a céu aberto e, para isto, o serialismo filosófico, como nos inspira Schoenberg, quer construir nossos próprios labirintos. Pensar não é andar pela senda tranqüila, é aventurar-se pelos descampados. Depois de séculos de pensamentos regrados por escalas já arquitetadas, agora nos cabe começar a compor pondo as notas, e não suas sombras, uma atrás da outra. As notas não estão a serviço de uma tonalidade––as idéias não estão a serviço de uma concepção já pronta na linguagem ou insinuada pelas expectativas das palavras. O serialismo é a disciplina da liberação, a disciplina do pensamento vencendo seus condicionamentos.
Basta de pensar em escalas bárbara, celarent, darii... A filosofia ficou por tempo demais subjugada pela idéia de uma ordem dos pensamentos, uma ordem natural, uma ordem imposta por si mesma, uma ordem auto-evidente. Não precisamos pensar a serviço de qualquer ordem de pensamentos, evidente, implacável ou inevitável––podemos sair da tonalidade. O serialismo filosófico convida a sair do tom. Nós começamos por nos impor nossa própria ordem––nossa série––de antemão e, de antemão nos comprometemos a segui-la em detrimento de qualquer inclinação em contrário. Os pensamentos não são nodos de uma rede de conexão em que tudo que é externo é interno: não há mônadas nas nossas cabeças––há apenas um arsenal de coisas diferentes umas das outras; nos as arranjamos como acontecer de as arranjar––de acordo com o que conseguimos quando tentamos soltar as idéias umas das outras. O serialismo pretende nos libertar dos arranjos prontos, nos libertar mesmo da idéia de que nós fazemos nossos pensamentos––nós apenas estamos no meio das idéias e a série, ou a tonalidade, é o que guia nossos neurônios. Não temos uma imagem precisa do que seja pensar em campo aberto, quando não mais precisarmos de séries. Apenas clamamos por um passo em favor da desordenação natural dos pensamentos: que eles sejam soltos de suas tonalidades. Para tira-los das escalas é que os engessamos em séries: é o gesso que reinventa os movimentos nos corpos atrofiados.
Façam suas séries. Sigam-nas. Sejamos tiramos de nós mesmos, assim, seremos livres.


SERIALISMO FILOSÓFICO
Estudo 1: Filosofia da Diferença.

SÉRIE: Lévinas, Derrida, Agamben, Heidegger, Deleuze, Vattimo.


A mim não me interessa tanto a ética, mas a santidade do santo. Tudo é diferente. O ser que vem é o ser qualquer. Mas o ser à beira do seu nada. Esse duplo que captamos apenas. Meu pensamento enfraquece o ser. Na casa do outro. Tem uma moto serra dentro da minha cabeça. Um conceito que foge à antinomia do universal e do particular está sempre familiar. O não poder permanecer que não pode deixar o seu lugar. Como deixar o seu lugar sem ser um corpo sem órgãos? Um corpo sem órgãos não bate. O humano só aparece numa relação que não é poder. A nós nos interessa o que sobra do poder. O próprio do nosso tempo: todos estão na posição de resto. Porém, o ser é sempre meu. E eu fico parado para não assustar os devires. E o meu destino não é um fato, mas interpretação. O desconhecido que vem é meu amigo. E com ele eu aprendi a dizer a palavra “acolhimento”. Essa é por assim dizer a experiência do limite mesmo o ser – dentro – um fora. Estamos no aberto, carregamos esta clareira. Até o nosso passado é um lugar para onde podemos fugir. O salto para o sem fundo. Sem fundo, um par de olhos, um rosto. Habitamos um mundo de vestígios nunca plenos, heranças sem testamento. Ser sem presença. O que fica não fica, somos para onde fugimos. É preciso que nosso pensamento não tenha mais força do que o que pensamos. O rosto do outro não está aí para ser pensado. Identificar a morte com o nada é o que gostaria de fazer o assassino. Quem pode matar um vulto. O nosso horizonte nunca é feito só do nada. Torne-se o horizonte que você nunca consegue encontrar. E pense passando por baixo do arco-íris. Eis me aqui. Ética também para além da ética. Mas a vida que começa na terra depois do último dia é simplesmente a vida humana. Eis me aqui. Eis me saindo daqui. Bem devagar.


Luciana Ferreira
Rudhra Gallina
Hilan Bensusan

SERIALISMO FILOSÓFICO
Estudo 2: Mais diferenças – a filosofia do impossível

SÉRIE:

1. Pseudônimo.
2. A lei, no singular absoluto, contradiz a lei no plural, mas cada vez é a lei na lei e cada vez fora da lei na lei.
3. Um sistema pronto de diferenças.
4. Um apelo que manda sem comandar.

Eu penso em esquizofrenia. A lei, mesmo dentro das minhas entranhas, está fora de mim. Diferenças de um sistema pronto. Uma voz que escuta ao longe. Deus P. Leis são proposições que nunca conhecemos porque nunca podemos enfiar a mão dentro delas ou sentir o seu cheiro. Diabolismo das letras. Tudo será assim como é, irreparavelmente, mas propriamente esta será a sua novidade. Novidade é o nome do mesmo no outro. Porque a exclusão e a inclusão são inseparáveis no mesmo momento; cada vez que se queira dizer ¨neste mesmo momento”, existe antinomia. É um sistema pronto de identidades. Só escuto uma voz ao longe, eu sou todos aqueles que crio –– o insensato que me conduz. E as diferenças, apenas porque elas estão sempre fazendo diferenças, nunca formam um sistema. O assassinato do outro homem é a impossibilidade de dizer “eu sou” enquanto “eu sou” é um “eis-me aqui”, como o “eis-me aqui” do hóspede que surge e traumatiza. O seu ser na linguagem. Não há leis quando convidamos uma pessoa a entrar com sua mala na nossa casa. Vamos abrir esta mala juntos. A partir da sua voz.

Luciana Ferreira
Rudhra Gallina
Hilan Bensusan


SERIALISMO FILOSÓFICO
Estudo 3: Pensar o mundo

SÉRIE:1
1.arbitrariedade
2.autoconhecimento
3.haecceitas
4.imediato
5.verdades
6.zanzando

Ninguém––nem nada––arbitra tudo. Eu conheço o que eu sou capaz de decidir e o que aceito que decidam para mim. Uma decisão é sempre uma decisão e só ela. Jogo uma rede que pavimenta o caminho para qualquer coisa. Tenho em minha cabeça as coisas pavimentadas. Perambulo entre elas, dias de sombra, dias de sol. Não escolho, não se trata de uma escolha. Apenas noto. Cada passo é aleatório e único. E, em cada passo, é que penso. Vagueio pelo que penso como por um território em erupção. Um território que se movimenta. Encontro nos movimentos as margens de como as coisas são. Assim é que as vejo. Vejo como cada uma delas é. E nelas me espelho de um jeito que não deixa lugar para qualquer complacência. Apenas é assim que são as coisas. Não julgo e não arrependo. Tento saber. Uma coisa única é imperturbável. Tenho que colocar meus olhos e trazer algo de volta. Não há meras presenças a serem encontradas. Meus pés, condenados e redimidos, desviam do que está perdido. Acontece de ser assim. Não sou eu mesmo um objeto perdido? Cada objeto, um objeto. Minha cabeça é uma maquina de mediações. Perco as verdades, depois as reencontro. E sigo.


Hilan Bensusan


Da impossibilidade do serialismo filosófico ou:
relações empiricamente externas requerem relações transcendentalmente internas.


O serialismo é uma maneira de forçar pensamentos a se meterem em relações externas com outros pensamentos. Pensamentos nunca podem se relacionar de uma maneira inteiramente externa: a natureza do pensamento é ter dutos para fora, a natureza do pensamento é ter conexões––identificamos pensamentos pela diferença que eles fazem e trazem, individuamos pensamentos com base em outros pensamentos. A surpresa empírica de um pensamento requer a previsibilidade transcendental de um pano de fundo de pensamentos que o torna inteligível. A alteridade empírica de um pensamento requer um pano de fundo de Mesmos. As notas talvez sejam tais que elas podem se colocar em relações externas: um dó pode não prefigurar um lá nem nota alguma por si mesma, ainda que a tonalidade crie dutos. Mas podemos almejar uma tal liberação dos pensamentos?
Bem, pode ser que nem precisemos. O serialismo quer apenas colocar o pensamento em outra ordem––a ordem transcendental requerida para uma desordem empírica. Encontrar, no pensamento, outros dutos: os dutos que levam a pensamentos menos pre-figurados sem ainda entender cada pensamento como uma singularidade sem elemento de fundo comum com outros pensamentos. Encontrar outros dutos, sem fazer uso de uma imagem já pronta––como um agrimensor de Deleuze. Experimentar pensar. Experimentar compor. Experimentar pensar em outra lógica, em uma lógica atonal.
Mas, como seria uma série filosófica? Imaginemos uma série assim: um pensamento com um espírito levinasiano, seguido de um com ares de Derrida, um com ares de Agamben, um heideggeriano, um deleuziano e um com o jeito de Vattimo (cf. Estudo 1). Ou qualquer outro assim. Compostos em série, não estaria cada pensamento repercutindo o anterior? Não seria a implementação de uma série filosófica assolada por relações internas––por um pensamento antevendo e ressoando o outro? Bem, poderíamos intercalar textos independentemente articulados... Nada, isto produziria prosa serialista mas não ainda um caminho serialista de pensamento. Queremos libertar o pensamento de suas armadilhas, não a prosa das armadilhas do pensamento. Quem sabe, contudo, o leitor da prosa serialista fizesse um caminho de pensamento libertado (ou pelo menos serialista) se ele de fato lesse o texto linha a linha. Isto talvez o ensine a pensar de uma maneira serialista. Ou pelo menos de maneira libertada das armadilhas do pensamento... Pode ser, no entanto, que o leitor aprenda a manter na cabeça apenas mais de uma linha de pensamento ao mesmo tempo, mais de uma melodia na cabeça, não em uma polifonia mas em justaposição. Desconfiamos disso porque na produçaõ da prosa não houve pensamento––a prosa foi composta de maneira mecânica.
E, se voltamos a estratégia anterior, como saberemos que o caminho do pensamento não foi burlar a série para compor uma melodia? Filiar um pensamento, digamos, a Lévinas não parece nos dar um critério de identidade, externo, extrínseco como parece que podemos ter da nota dó. Mesma desconfiança teríamos se adotássemos uma estratégia rousselliana de nos tiranizar para nos libertar: atentar aos significantes e jamais aos seus significados. Roussel conectaria filha com pilha e não importa os significados. Porém não estariam os significados armando armadilhas para o poeta nonsense? Não estariam eles nos empurrando pelos dutos sem que notemos? Serialismo filosófico, gostaria de ver––com os olhos, com a cabeça, com minha própria cabeça. Sem ver, desconfio. Pensamentos não são notas: cada um deles já vem com escalas, com muitas escalas diferentes e dissonantes, mas com escalas. São as escalas transcendentais do pensamento que possibilitam que o pensamento pense, mesmo em em série.


* The score in the image is not Schoenberg's but the world map is a series... of sorts.

Comments

Popular posts from this blog

Hunky, Gunky and Junky - all Funky Metaphysics

Been reading Bohn's recent papers on the possibility of junky worlds (and therefore of hunky worlds as hunky worlds are those that are gunky and junky - quite funky, as I said in the other post). He cites Whitehead (process philosophy tends to go hunky) but also Leibniz in his company - he wouldn't take up gunk as he believed in monads but would accept junky worlds (where everything that exists is a part of something). Bohn quotes Leibniz in On Nature Itself «For, although there are atoms of substance, namely monads, which lack parts, there are no atoms of bulk, that is, atoms of the least possible extension, nor are there any ultimate elements, since a continuum cannot be composed out of points. In just the same way, there is nothing greatest in bulk nor infinite in extension, even if there is always something bigger than anything else, though there is a being greatest in the intensity of its perfection, that is, a being infinite in power.» And New Essays: ... for there is nev

Talk on ultrametaphysics

 This is the text of my seminar on ultrametaphysics on Friday here in Albuquerque. An attempt at a history of ultrametaphysics in five chapters Hilan Bensusan I begin with some of the words in the title. First, ‘ultrametaphysics’, then ‘history’ and ‘chapters’. ‘Ultrametaphysics’, which I discovered that in my mouth could sound like ‘ autre metaphysics’, intends to address what comes after metaphysics assuming that metaphysics is an endeavor – or an epoch, or a project, or an activity – that reaches an end, perhaps because it is consolidated, perhaps because it has reached its own limits, perhaps because it is accomplished, perhaps because it is misconceived. In this sense, other names could apply, first of all, ‘meta-metaphysics’ – that alludes to metaphysics coming after physics, the books of Aristotle that came after Physics , or the task that follows the attention to φύσις, or still what can be reached only if the nature of things is considered. ‘Meta-m

Memory assemblages

My talk here at Burque last winter I want to start by thanking you all and acknowledging the department of philosophy, the University of New Mexico and this land, as a visitor coming from the south of the border and from the land of many Macroje peoples who themselves live in a way that is constantly informed by memory, immortality and their ancestors, I strive to learn more about the Tiwas, the Sandia peoples and other indigenous communities of the area. I keep finding myself trying to find their marks around – and they seem quite well hidden. For reasons to do with this very talk, I welcome the gesture of directing our thoughts to the land where we are; both as an indication of our situated character and as an archive of the past which carries a proliferation of promises for the future. In this talk, I will try to elaborate and recommend the idea of memory assemblage, a central notion in my current project around specters and addition. I begin by saying that I